21 August 2008

Diário de Bordo IV - Viñetas desde o Atlántico, um festival de lições

Bem sei que não tenho dito nada. Ando meio ocupado com Venham +5, concurso do FIBDA, Zé Manel. A outra metade é com filmes, alguma BD e lutar para acabar de ler os livros.
E agora com 2 semaninhas no Algarve dedicadas à leitura já que (finalmente!) vou estar longe de computadores que só me distraem das leituras lol

Fica aqui o mais recente Diário de Bordo, desta vez referente ao festival Viñetas desde o Atlántico em Corunha. Amadora, aprendam com Corunha! Corunha, aprendam com a Amadora!

PS-Infelizmente não há fotos porque estupidamente só me lembrei da máquina quando chegamos a Corunha...



Num país que apoia bastante a cultura e tem uma pujança editorial que só vendo para crer, o Viñetas desde o Atlántico afirma-se como um dos maiores festivais de Espanha. O Diário de Bordo seguiu para o país de nuestros hermanos para visitar durante o dia 15 Agosto o festival da Coruña que celebra este ano a sua 11ª edição.

DIVULGAÇÃO

A divulgação deste festival é excepcional. Logo à entrada da cidade já é possível ver cartazes com o símbolo do festival (que foi criado pelo Miguelanxo Prado na primeira edição do festival) em todos os postes de iluminação além de reproduções em tamanho real de inúmeras personagens de BD em pontos-chave da cidade. É uma boa maneira de reutilizar a publicidade sem haver necessidade de criar novos cartazes todos os anos só porque o desenho do cartaz e o número da edição do festival mudou.

Pode-se dizer que este festival vive da cidade. Lojas que aproveitam o movimento do festival para estarem abertas mais tempo; promoções; e uma população que sai à rua para visitar exposições e bancas que não tem preconceito em relação à BD.

EXPOSIÇÕES

Semelhante a Beja, o festival divide-se em vários locais no centro da cidade. O local dos autógrafos (Palexco), as bancas e o edifício da Fundación Caixa Galicia encontram-se todos na mesma zona das 3 avenidas junto ao porto ao alcance de alguns metros a pé.

As exposições de David Aja e Daniel Acuña situavam-se no equivalente à Câmara Municipal, na praça coração da cidade, obrigando desta forma a conhecer mais da cidade e tudo a uma distância muito acessível.

Estando o Kiosk Alfonso, habitual e principal espaço de exposições do festival ocupado com outra exposição referente à comemoração do 800º aniversário da cidade, algumas exposições deste ano foram transferidas para o edifício Fundación Caixa Galicia propriedade do banco homónimo.
Além das excelentes exposições de Mark Buckingham, Solano López (que devido a problemas, teve em exposição cópias digitais de várias pranchas que muito perdiam para os originais) e da dupla Étienne Le Roux e Luc Brunschwig, quem visitasse o edifício tinha ainda direito a uma exposição do Museu Prado: El Retrato en el Prado. De Goya a Sorolla. Tudo muito bem apresentável e com nível (pena não deixarem tirar fotografias).

No Palexco, muito espaço livre e simplicidade ao máximo reinavam no que era também o espaço para autógrafos. As exposições presentes eram de Howard Cruse, Miguel Gallardo, Paco Roca, Oliver Ka e José-Louis Bocquet e Catel Muller.

ESPAÇO COMERCIAL

As bancas situam-se no exterior, mesmo em frente da Fundación Caixa Galicia. O espaço comercial está completamente desligado do espaço dos autógrafos e isto por um lado permite potenciar as vendas com os leitores ocasionais de passagem e também evitar que num espaço limitado se formem pequenas multidões mas por outro perde nos autógrafos por não se ter à mão uma banca com as obras dos autores. O exemplo da Amadora podia ser aqui seguido mas percebe-se que o mais importante torna-se divulgar as publicações e vender àqueles que não se preocupam com autógrafos.

O espaço comercial com mais de 40 bancas (!!!) dá para ter uma ideia da pujança que o mercado bedéfilo tem em Espanha. Este monstro editorial é constituído por um elevado número de editoras de todos os tipos e editam praticamente tudo o que se vê lá fora sem nunca esquecer os autores nacionais muito bem representados e editados em grandes quantidades. Não deixei de reparar que até uma dessas editoras, a Astiberri tem no catálogo para este ano o anúncio do lançamento para este ano da Agência de Viagens Lemming do omnipresente José Carlos Fernandes.

É possível encontrar virtualmente tudo o que saiu no estrangeiro traduzido. Desde as grandes editoras americanas passando pelos gigantes da manga, underground, franco-belga e tudo o que é possível imaginar.
Num país que traduz tudo é extremamente difícil encontrar material na língua original e é engraçado de ver que, tal como nos EUA, também em Espanha, em imensos títulos das grandes editoras, primeiro lançam-se os comics e depois recolhem-se os arcos de estórias em trades ou HC em edições que são tão ou até mesmo melhores que as estrangeiras sendo raros os casos em que se tornam mais caros que os originais.
AUTÓGRAFOS

Além da diferença no espaço comercial desligado dos autógrafos, no Palexco, local dos mesmos, a disposição das mesas é bastante diferentes do habitual nos festivais. Os autores estão espalhados pelo local e caso tenham arte exposta no edifício ficam junto da sua respectiva exposição.

A organização aqui esteve muito má. Os autores e visitantes são deixados desamparados pois não era possível encontrar ninguém da organização devidamente identificado que pudesse ajudar.
Com a estrela do cartaz deste ano, Mark Buckingham, sem mesa, deduziu-se que o autor tinha faltado a esta edição. Resignando-me a perguntar a um “segurança del patrimonio” se o Buckingham iria comparecer, penso que obteria melhor resultado se lhe tivesse perguntado quando seria o próximo alinhamento de Marte com Vénus.

A sessão de autógrafos com Daniel Acuña e David Aja, dois heróis nacionais que actualmente trabalham para títulos da Marvel, tornou-se algo desesperante e decepcionante do ponto de vista da espera. Sem ninguém para controlar o tamanho das filas, grande parte dos fãs perdeu a oportunidade de obterem desenhos e firmas (assinaturas). O tempo que eles gastavam para cada fã era demasiado para as duas horas (que ainda se arrastaram por mais meia hora) e a dada altura os autores tiveram que anunciar que não iam fazer mais desenhos naquele dia. Mais outro exemplo da falta de organização que os espanhóis aparentemente demonstram muitas vezes.
Pelo menos os desenhos e a simpatia dos autores compensaram o enorme tempo de espera.

ORGANIZAÇÃO

No geral a organização está de parabéns. O festival é excelente, muito bem divulgado e organizado apesar do problema das pessoas desamparadas no Palexco e o muito habitual facto de ainda anunciarem confirmações e horários até ao último dia no blog oficial Viñetas desde o Atlántico.
A organização nisto tem algumas coisas a aprender com a Amadora por exemplo e de certa forma, a Amadora também pode seguir alguns exemplos de Corunha e Beja.
O Viñetas desde o Atlântico concentra apresentações durante uma semana, autógrafos em 2 dias com os autores todos reunidos e as exposições ficam acessíveis durante o mês quase todo. O FIBDB concentra num fim-de-semana as sessões de autógrafos e as apresentações mais relevantes com outros eventos a preencherem os restantes dias
Um festival devia concentrar todos os seus participantes dando, assim, oportunidade de se apreciar ao máximo a festa que é.

Um dia chega perfeitamente para conhecer o festival mas o ideal são 2 dias de forma a ter-se tempo para estar com todos os autores, ver todas as exposições e conhecer melhor a cidade que vale bem a pena. É um excelente festival, obrigatório no guia de “festivais a visitar um dia”.